.comment-link {margin-left:.6em;}

Resma de Alfarrábios

Artigos de Fernando Aires. Todas as informações aqui, exceto as de propriedade do serviço Blogger ou citações, são propriedade intelectual de Fernando Aires, e registradas sob uma licença Creative Commons (para detalhes, vide descrição da licença no atalho abaixo). Comentários podem ser escritos na seção "Rabiscos" de cada artigo, e serão benvindos e lidos com carinho.

Minha foto
Nome:
Local: São Paulo, SP, Brazil

quarta-feira, 3 de novembro de 2004

Sobre Professores e Educação

Esse é um assunto que abrange muito mais do que qualquer texto (menor que a Bíblia, ao menos) consiga esgotar, mas nem por isso menos importante de ser tratado. Declaro, de antemão, que não sou formado em Pedagogia, e que meu conhecimento na área começa pela curiosidade e termina em algumas disciplinas de Licenciatura cursadas, uma Iniciação Científica incompleta sobre Impactos das Tecnologias da Informação na Educação, e um projeto de tese de mestrado que não saiu do plano das idéias - nem do meu nem do meu orientador -, o que faz as idéias sobre Pedagogia daqui não necessariamente terem rigor científico. Além disso, não acredito na imprensa imparcial, e, sendo assim, o texto abaixo traz altas doses de minha opinião, e apresenta fundamento em anos de convívio com a UNICAMP. Peço que nada disso seja tratado por arrogância: as críticas aqui mostradas são feitas com Amor e esperança de melhora.

Esse texto tem um motivo especial. E, prá falar desse motivo especial, antes eu preciso falar dum homem que já me é especial, apesar de tê-lo visto apenas uma vez, no dia que nos conhecemos: José de Ávila Aguiar Coimbra. Tenho o enorme prazer de ter como amiga a filha mais velha desse homem sensacional (o prazer advém principalmente da pessoa maravilhosa que ela é, devo admitir), e essa amizade me propiciou o convite para realizarmos um passeio pelo centro de São Paulo, com o Dr. Ávila contando a história da cidade enquanto passávamos por pontos importantes da mesma. E, ao final do edificante passeio, com companhias agradabilíssimas, inclusive de pessoas queridas, o Dr. Ávila solicitou a todos que escrevessem um texto sobre as impressões do passeio. Acredito que possa eu fazê-lo na forma de artigo, mesmo com atraso.

O passeio foi maravilhoso, e o foi por vários motivos. Estou fora de São Paulo já há quatro anos, mas lá ainda é a cidade em que eu nasci, cresci, e formei as bases que (seja isso bom ou ruim) em boa parte foram responsáveis por eu resultar no homem que sou hoje. Então, estudar a história dessa cidade é, de uma certa forma, voltar às minhas raízes. O passeio por São Paulo é em verdade um passeio pelo passado, pela Educação e pela memória de nós mesmos, paulistanos. São 450 anos de história, que carraram a cidade como ela é hoje, e que não cabem completos em um dia de passeio. Então, eu poderia citar pontos que deixamos de visitar e que eu gostaria de conhecer mais a história, mas a verdade é que os pontos que se visita durante um dia jamais cobrirão tudo o que se pode falar a respeito de São Paulo. Eles poderiam ser todos diferentes (essa hipótese, inclusive, atrai bastante a mim: fazermos um passeio por outros pontos da cidade), gerando um dia completamente diferente, no qual passaríamos em verdade falando da mesma coisa: a história da cidade de São Paulo.

Mas eu não falei do motivo principal do passeio ter sido maravilhoso (e a responsabilidade desse motivo é inteiramente do Dr. Ávila): eu passei o dia tendo uma aula maravilhosa. O Dr. Ávila é um professor estupendo (talvez seja por isso que ele tenha me encantado tanto: dê uma boa aula, e suba vertiginosamente no meu conceito). E, ah!, como eu tenho saudades de boas aulas... Estudo há quatro anos naquela que é considerada uma das melhores Universidades da América Latina, e nela é quase um milagre conseguir assistir uma aula onde a professora ou o professor está ao menos tentando aplicar uma boa aula. Temos docentes contratados pela sua qualidade de pesquisa, cuja preocupação é apenas a pesquisa, e que algumas vezes não sabem sequer falar em público. E, o que é pior, não se importam em tentar aprender. Quando deparamos a primeira vez com o problema, parece um caso isolado, mas não é. Um exemplo: no Instituto de Computação, onde estudo, o quadro docente é pequeno. Isso resulta em disciplinas em que sua escolha ao se matricular é entre o péssimo e o pior ainda. Não tem boa opção. E não vai ter nos semestres subseqüentes, simplesmente porque não há perspectivas de aparecer um bom professor disposto a dar aquela disciplina.

Sinto-me obrigado a apresentar aqui ao menos uma exceção a esta regra. E, se for prá falar de um bom professor do Instituto de Computação, seria injustiça não lembrar do Prof. Sindo Vasquez Dias. Poderia citar alguns outros (não muitos, senão eu teria que mentir) bons professores do IC, mas o Sindo foi o que mais me marcou: pela qualidade das aulas, pela dedicação em prepará-las (mesmo trabalhando o dia inteiro, e dando aula apenas à noite - e ganhando uma miséria por isso), e pelo carinho em aplicá-las.

Eu não sei se existe uma forma de resolver o problema. Sei que é grave demais para que a sociedade acadêmica continuemos alheios a ele. Acho que a UNICAMP repovoada apenas por bons professores é uma utopia. Mas existem formas de melhorar a situação atual. Por esses dias soube que uma das etapas do concurso de contratação de docentes consiste em uma aula para uma banca de cinco pessoas, que não interagem ou participam da aula. Talvez se deixassem os candidatos finalistas um semestre ministrando uma disciplina, a avaliação das pessoas que cursaram-na fosse uma melhor forma de avaliação. Mas, nesse caso, envolveria a participação dos discentes - e não sei até aonde o ego desses doutores que não sabem dar aula permitiria isso.