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Resma de Alfarrábios

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quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Carta ao Papai Noel

Querido Papai Noel,

É verdade que não fomos bons meninos esse ano. Aliás, não somos bons meninos há muito tempo. Desregulamos a natureza. Estamos derretendo as calotas polares, e ainda assim não estamos pensando em parar com a emissão de dióxido de carbono. Os índices de poluição são cada vez maiores, e ainda assim não deixamos de jogar lixo nas ruas, ou de não filtrar os poluentes das fábricas. Desperdiçamos energia nas refinarias, explodindo gás que poderia ser utilizado para pesquisas, aquecimento, ou combustível. Produzimos alimentos para alimentar quase o dobro da população mundial, e ainda assim quase a metade dela passa fome. Eis o que somos.

Não somos bons meninos sequer com os que são próximos a nós. Nossas relações sociais são tão deturpadas, que hoje muitos preferem o contato virtual ao mundo físico. Não conhecemos mais nossos vizinhos, não nos preocupamos mais com os problemas alheios. Nos encafurnamos em grandes cidades, onde paradoxalmente vivemos solitários em meio a centenas de milhares de pessoas. Damos mais valor ao dinheiro que ao uso dele, e nos matamos pouco a pouco no estresse do dia-a-dia apenas para conseguirmos mais do mesmo. Mesquinhos, mesquinhos...

Mas, ainda assim, quero fazer a minha lista de presentes. Não estou pior que a média, então talvez você possa cumpri-la prá mim - com o mundo assim, seus duendes não devem ter lá tanto trabalho. Ela é longa e difícil de obter, mas não quero perder a esperança de consegui-la.

Primeiro, quero sorrisos. Não daqueles amarelos, nem daqueles interesseiros. Desses, temos aos montes por aqui. Quero sorrisos sinceros, daqueles que carregam a esperança de dias melhores e a força que só o amor consegue ter. Para isso, contudo, é preciso coragem. Não a valentia, porque essa muitas vezes mais atrapalha que ajuda. Quero também, então, a coragem de quebrar as barreiras, de não precisar da vingança, e de poder amar mesmo a quem me faz mal.

Além disso, quero a concórdia. Não a obediência cega, nem a subserviência - os seres humanos são iguais, e eles deveriam se lembrar disso mais vezes. Mas quero sim a tolerância, não aquela que se finca nas nossas tortas verdades, e recebe ao outro como ser inferior, mas aquela que respeita a verdade do outro como tão certa ou tão errada como a sua, e, sem se deixar levar por ela, aceita a hipótese de estarmos errados.

Por fim, quero paz. Não aquela paz de atrás do muro, onde o resto do mundo passa, e a gente não percebe. Quero a paz verdadeira, aquela que vem da justiça e da esperança, daquela que inquieta, e que nos faz sentirmos verdadeiramente livres. Essa talvez seja a mais fácil e a mais difícil de todas. Difícil porque envolve mudança individual, irrestrita, e radical. Fácil porque muita gente há muito tempo vem falando dela. Em particular, o aniversariante, que disse "E o meu mandamento é esse: que vocês se amem uns aos outros assim como eu amei vocês". E bastava as pessoas terem ouvido, que daí seríamos bons meninos, e ainda assim eu não precisaria te pedir nada...